
Uns minutos com a Boa Mãe
18 de Outubro de 2018
O sentido da vida e da esperança
Falar de vida é levar-nos a imaginar o dia em que brotamos do ventre da nossa mãe. É tentar recordar e criar um cenário, do primeiro toque, do primeiro sorriso, do primeiro sopro no rosto e a palmada carinhosa para surgir o choro, sinal de uma nova vida. E estes gestos realizados, foram sinais de esperança, em algo maior do que aquele momento que ali fica registado e caminha ao longo dos tempos.
No entanto, antes do ventre materno, Deus já nos amava e trocava reinos inteiros por nós. Por isso primeiramente existimos no coração de Deus, no plano da sua criação, que continuamente se renova.
“E agora, eis o que diz o Senhor, aquele que te criou, Jacó, e te formou, Israel: Nada temas, pois eu te resgato, eu te chamo pelo nome, és meu. Se tiveres de atravessar a água, estarei contigo. E os rios não te submergirão; se caminhares pelo fogo, não te queimarás, e a chama não te consumirá. Pois eu sou o Senhor, teu Deus, o Santo de Israel, teu salvador. Dou o Egito por teu resgate, a Etiópia e Sabá em compensação. Porque és precioso a meus olhos, porque eu te aprecio e te amo, permuto reinos por ti, entrego nações em troca de ti. Fica, tranquilo, pois estou contigo. (Isaías 43)”
O próprio Deus que nos dá a vida, dá-nos também um nome, para continuamente chamar-nos à vida. Uma vida cheia de projetos e sonhos, onde transportamos sempre a palavra esperança, para ser a bengala e o alento, para não desanimar-mos nem desistirmos do caminho, ao qual fomos chamados. Por isso, a nossa vida é uma contante espera, quer não deve desesperar.
A boa Mãe na sua juventude idosa fez da sua bengala um cajado de pastor, trilhando caminhos e veredas, para chegar ao pobre dos mais pobres, ao donte dos mais doentes.
Recordemos a carta aos Romanos que nos apela: “estou absolutamente convencido de que os nossos sofrimentos do presente não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada (Rm 8,18).
Talvez nos habituamos a ouvir falar de esperança, em relação a um acontecimento que está para breve. Quando se diz por exemplo: espero que amanhã o tempo seja bom. Porém a esperança cristã não é assim. A esperança cristã é a espera em algo que já aconteceu e que certamente acontecerá para cada um de nós. Esperar significa aprender a viver na espera e encontrar a vida.
Diz-nos a Boa Mãe “Aproveita os acontecimentos da vida presente para com o divino auxílio te prepares bem para gozar a outra vida: a bem-aventurança do céu” (CIW 52).
Perceber o sentido da vida e da esperança é olhar por exemplo quando uma mãe descobre que está grávida, ela todos os dias aprende a viver na espera de ver o olhar daquela criança que virá. Também nós devemos aprender essas esperas humanas e viver na espera de ver o Senhor, de encontrá-Lo. Isso não é fácil, mas aprende-se: vivendo na espera. “espere no Senhor. Seja forte! Coragem! Espere no Senhor! (Sl 27,14)
O evangelho da solenidade de hoje (Evangelista São Lucas) remete-nos para o sentido da esperança nos desígnios de Deus, que não falta com a promessa que fez ao seu povo.
«A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos.
Pedi ao dono da seara
que mande trabalhadores para a sua seara.
Ide: Eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos.
Não leveis bolsa nem alforge nem sandálias,
nem vos demoreis a saudar alguém pelo caminho.
A esperança que Jesus propõe é fundada numa promessa de envio, para lugar incerto e não planeado. Do ponto de vista humano, parece algo imprevisível ou até assustador, mas que não perde o seu sentido nem razão, quando quem promete é o Jesus da Ressurreição e da vida. Isto não é prometido por qualquer um! Aquele que faz a promessa é o ressuscitado, que já fez o caminho com as suas próprias sandálias, sendo ultrajado, rejeitado e blasfemado. Por isso “Na vida só temos de esperar e confiar”. (CIW 78)
A esperança é semelhante a semente, que recebe a “terra” do Espírito Santo, converte-a em força e nos impele a ver germinar a vida. O Espírito Santo faz com que vivamos cheios de esperança, sem nunca desanimar, “esperando contra toda a esperança”. A esperança não dececiona porque o amor de Deus encheu os nossos corações de esperança.
A venerável Irmã Wilson, foi e hoje continua a ser para nós de forma mais visível, porque esperamos confiantes que o milagre aconteça, sinal de esperança e presença do amor de Deus no meio do mundo.
Numa das suas cartas a 12 de Abril de 1909, escreve à sua cunhada Cláudia, dando-lhe a maior esperança possível, num momento de dor e fragilidade pela morte do seu irmão. E diz: “Ponhamos, pois, todas as nossas esperanças da eternidade neste único fundamento seguro e vivamos, a exemplo d’Ele, como servos fiéis daquele mesmo Senhor que "passou fazendo bem" e curando os atribulados da mente e do corpo. A única cura para os corações feridos é partilhar a dor de outrem e sei, querida irmã, que procurarás este bálsamo, sem ser preciso seguir-to. (CIW 36)
O convite a esperarmos no Senhor e o convite a termos esperança para fazermos atos semelhantes ao Senhor é algo que devemos cultivar através do dom recebido.
A vida cristã carece de esperança da fé. Por um lado, podemos garantir que a esperança é uma virtude, logo ela não acontece apenas pelo ímpeto humano, mas é suscitada pelo próprio Deus, portanto, ela é dom. Por outro lado, esta esperança que emana de Deus e toca o mais íntimo do íntimo do ser humano confronta-se com um mundo reverso no qual aquele que espera e vive dessa esperança sente-se desafiado a dar as suas razões. É ter esperança contra toda a esperança (cf. Rm 4,18).
A venerável Irmã Wilson dizia “Embora nada tenhamos a ver com o futuro, graças a Deus, torna-se difícil não olhar com ansiedade para diante, quando a vida pesa tanto”. (CIW 17)
A nossa esperança não se baseia em raciocínios, previsões nem seguranças humanas; e manifesta-se quando já não há esperança, onde não há mais nada no que esperar, exatamente como aconteceu com Abraão, diante da sua morte iminente e da esterilidade da sua esposa Sara. Aproxima-se o fim para ambos, não podiam ter filhos, e naquela situação Abraão acreditou, esperando contra toda a esperança. E isto é grandioso!
A profunda esperança radica-se na fé, e precisamente por isso é capaz de ir além de toda a esperança. Sim, porque não se fundamenta na nossa palavra, mas na Palavra de Deus. Então, neste sentido somos chamados a seguir o exemplo de Abraão que, não obstante a evidência de uma realidade que parece destinada à morte, confia em Deus e «estava plenamente convencido de que Deus era poderoso e podia cumprir o que prometera» (Rm 4, 21).
Estaremos convictos de que Deus nos ama e que está disposto a cumprir tudo aquilo que nos prometeu? E estarmos preparados para responder a todo aquele que nos pedir a razão da esperança que há em nós” (1 Ped 3,15). Vista desta forma, a esperança cristã provoca no ser humano o agir, e coloca-o em movimento, para frente, numa busca contente naquilo que espera. Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos. (Rom 8:25)
Por isso, o Papa Francisco afirma: “O cristão semeia esperança, semeia o óleo da esperança, semeia o perfume da esperança e não o vinagre da amargura e da desesperança”. E tudo isto só poderá ser vivido, sentindo o verdadeiro pulsar do sentido da vida.
A venerável irmã Wilson afirmava: “As coisas pequeninas, devemos fazê-las muito bem por amor do Senhor, e nunca esperar pelas grandes, porque nunca as teremos”. (TD 4)
Pelo sentido da nossa vida e a esperança que colocamos nela “Devemos tornar a nossa vida toda sobrenatural!”. (VTC 59)
Realizado por:
Paulo Sérgio Cunha da Silva




